Ir. Rosangela Micheletto
É assim que ele escreve a sua história:
Nos anos 1959-1960, Ir. Bruna e Ir. Venerina andavam pelas comunidades do Brasil à procura de jovens vocacionadas. Elas visitaram a minha Paróquia, Nossa Sra. Das Dores, em Barra Fria/SC. O pároco daquela época era o Pe. Alfredo Trinchero que havia conhecido o Primeiro Mestre, Pe. Tiago Alberione. Ele estudou no Seminário de Alba e tinha muitas lembranças de Dom Re e do Cônego Chiesa. Ele conversou muito com Ir. Venerina Vaccarisi sobre o Primeiro Mestre.
A Ir. Bruna, muito dinâmica, fez um belo encontro com o grupo das “Filhas de Maria” e projetou alguns slides das irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre em Adoração e no Apostolado. Fiquei muito animada. Não ingressei neste ano porque minha mãe havia sido submetida a uma cirurgia de apendicite aguda e não estava muito bem.
Eu dei o meu nome e, no ano seguinte, Ir. Venerina e Ir. Domitila voltaram. Era o mês de outubro de 1960, quase no final do ano letivo. Meus pais resistiram, pois eu iria perder o quinto ano denominado “admissão”. As irmãs prometeram que eu continuaria a estudar (só conclui o ginásio depois da minha Profissão Perpétua no ano de 1972).
Assim, no dia 27 de outubro, junto a outras jovens: Assunta de Sordi, Lourdes Micheletto, Elisa Vigolo, Elza Mazziero, Neusa Bresiani e eu, Miriam Micheletto, viajamos para ingressar na Congregação. Foram dois dias e duas noites de trem “Maria Fumaça”. Embarcamos na Barra Fria com Ir. Venerina Vacarissi e, ao longo da viagem, outras jovens iam somando ao grupo.
Chegamos em São Paulo no dia 29 de outubro de 1960 na Estação Luz. Fomos para a Rua Vergueiro, 3073 – Vila Mariana, onde era a nossa casa. Quem nos acolheu foi um grupo de aspirantes e as irmãs. Todas vestidas de preto. Nos perguntávamos: “Será que estão de luto? Quem morreu?”
A Madre Cormariae nos acolheu e nos levou à capela que estava como SSmo. Sacramento exposto para a adoração. No dia seguinte, já ingressamos no aspirantado e fizemos a vestição do vestido preto. A adaptação aos costumes foi difícil e exigente. Tralhamos no bordado do Filé (renda para toalhas de altar), na confecção de paramentos e jogos de altar.
Acompanhávamos as irmãs no Centro Liturgico na praça Clóvis Bevilacquia, nas dependências da Cúria Metropolitana de São Paulo. Também saíamos em beneficência junto a Ir. Modesta e com as irmãzinhas, postulantes. O objetivo era angariar fundos para o andamento da construção da primeira ala da casa da Raposo Tavares. Nos fins de semana, junto a Ir. Gervasina que nos levava de Kombi, dirigíamos ao local da construção para carregar os tijolos, a areia e o cimento. Tudo tinha que ser braçal, pois ainda não havia estrada para o caminhão subir.
Todo final de semana, vibrávamos ao ver nossa casa que, aos poucos, ia tomando forma. Em 1961, mesmo sem ter finalizado a obra, deu-se início ao primeiro grupo de noviciado do Brasil. Antes do Natal de 1962, mudamos da Rua Vergueiro para a Raposo Tavares. Nossa principal atividade era o serviço doméstico e na gráfica dos Paulinos. Éramos um grupo muito numeroso e heterogêneo. Precisava muita comida. Íamos ao CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) de madrugada e, durante o dia, nos ocupávamos de limpar as verduras, fazer molho de tomate, berinjela em conserva e peixes em vinagrete.
Várias jovens foram enviadas para Roma para o noviciado. Aquelas que permaneceram, continuamos a acompanhar as irmãs na beneficência, no centro de Apostolado Liturgico e nos diferentes setores: alfaiataria, costura e bordado e ajuda no seminário paulino. A comunidade havia recebido uma nova força Ir. Escolástica Aoki (Teruco Aoki), primeira irmã brasileira que regressou de Roma e no ano seguinte Ir. Zelinda Lázaro e Ir. Zenita Lázaro.
No final do ano 1963 também fui enviada para Roma. Permaneci fora do Brasil por oito anos. Ao regressar, trabalhei na Pastoral Vocacional e na beneficência. Já havia iniciado a segunda ala da Casa da Raposo Tavares. Erámos muito alegres, disponíveis e cheias de entusiasmo. Rezávamos muito e nos era incutido um espírito de sacrifício e de oração. Observamos o silencio e a obediência à Madre e as assistentes. Lembro destes primeiros tempos com carinho, gratidão a Deus e a congregação que me ajudou a ver e viver que somente Deus é importante. Estas são minhas lembranças.